segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Método científico

Meu pulso dói e meus dedos, já tortos, ficaram estranhos.
É o método científico
que me obriga a um texto assim
amarrado, contido, repetitivo
tem motivo sei bem, mas cansa.


É braçal, dedutivo e analítico ao mesmo tempo
é longo, óbvio e tem algo de fantástico
não oferece estratégia de fuga, é assim e pronto!


Por isso recorro ao texto livre
para tirar as algemas e descansar a mão
caminho e bebo para anestesiar a mente
minto na poesia para ser racional no método.


Penduro roupas e planto rosas
para ser de novo humana
feita de cabeça e carne
mais carne que cabeça

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Clientelismo

Incrível que o clientelismo ainda exista de forma tão explícita no Brasil e aqui em nossas terras das Minas Gerais. Mas não aquele clientelismo velado, porque este talvez seja parte de nossa democracia frankstein, que mistura modelos de realidades distantes e pula etapas de desenvolvimento da sociedade civil. Estou falando de um clientelismo explícito, justificado por si mesmo, às claras, assumido como forma de alternância de poder. Estou falando daquele clientelismo onde a população de uma pequena cidade acha extremamente natural que o candidato ofereça um “salário família” para uma real família em troca de um pacote de votos “fechado”. Fechado em seus dez irmãos, 30 filhos e 25 netos.
O investimento é certo, a vinda do dinheiro também. E depois tudo está mais certo ainda. Desde, claro, que se faça a escolha certa. Assim é a cidade de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. Em um trabalho de pesquisa de campo nesta cidade, realizado no dia 11 de setembro de 2008 (véspera de eleição), nós entrevistadores nos vimos frustrados com o sentimento de medo presente no município. Voltada para a temática da criança e do adolescente, a pesquisa tornou-se inócua frente ao sentimento de pânico da população. Muitos haviam fechado “pacotes” com os candidatos locais, muitos temiam o novo governo, a prefeitura estava de portas fechadas... O único secretário encontrado nos ameaçou de forma assustadoramente direta.
Naqueles dias, a música do Jequitinhonha se calou. Sumiram os poetas, sumiram os sonhadores. Ficaram apenas as famílias, sem oportunidade de trabalho, sobrevivendo na zona rural, com transferências de renda mínimas, vendendo seus votos por preços ínfimos. A voz ouvida era a da rádio local, único meio de comunicação da cidade, de propriedade do senhor Murilo Badaró, o que dispensa comentários.

obs: Este texto foi escrito em 2008, mas como temos eleições neste ano, achei interessante trazê-lo de volta, para nos lembrar que o Brasil é bem maior do que aquilo que vemos nas capitais...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Dissertação e Cora Coralina

Tenho ficado horas a fio na frente do computador tentando concluir minha dissertação. Sinto muita culpa quando não consigo render nada e acabo me desviando para sites inúteis, apenas para não abandonar meu posto informático que carrega todo o resquício católico, trabalhador e culpado existente na maioria das pessoas ditas “normais”.


Penso em como queria estar fazendo outra coisa, como queria estar envolvida com uma questão mais corporal e menos cerebral. E aí me lembro de um poema incrível da Cora Coralina, no qual ela diz com extrema franqueza que a mulher tem algo corporal mais profundo, da vida, da beleza. E fico com muita raiva das feministas, que nos impuseram uma labuta múltipla e nos tiraram o que tínhamos de melhor.


Não! Mas também não queria voltar aos tempos de minha bisavó, quando os homens eram senhores do nosso destino. Mas fico pensando se não teria outra forma de caminharmos lado a lado com os homens, sem querer ser iguais a eles. Sinto que a diferença está ficando para trás e ela é tão cheia de sabor...


Tenho saudades de algo que nunca vivi. Tenho saudades de ser cortejada a moda antiga. Tenho saudades de viver a maternidade. Tenho saudades de ser simplesmente mulher.
Bom, aí vai o poema da Cora Coralina que em absolutamente nada tem a ver com a minha dissertação.

Renovadora e reveladora do mundo 

A humanidade se renova no teu ventre. 
Cria teus filhos, 
não os entregues à creche. 
Creche é fria, impessoal. 
Nunca será um lar 
para teu filho. 
Ele, pequenino, precisa de ti. 
Não o desligues da tua força maternal. 
Que pretendes, mulher? 
Independência, igualdade de condições... 
Empregos fora do lar? 
És superior àqueles 
que procuras imitar. 
Tens o dom divino 
de ser mãe 
Em ti está presente a humanidade. 

Mulher, não te deixes castrar. 
Serás um animal somente de prazer 
e às vezes nem mais isso. 
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar. 
Tumultuada, fingindo ser o que não és. 
Roendo o teu osso negro da amargura.


Por que ter um blog?

Sou uma generalista por natureza. Tenho interesse por política, comunicação, poesia, cinema, criminalidade, crianças e adolescentes, meio ambiente e mais uma lista grande de coisas. Em qualquer trabalho sempre tenho que me adequar em algum tema, em algum estilo, em alguma regra. Confesso que não gosto disso, mas, fazer o que? Eu me adapto.
De adaptações a adaptações, continuo desencaixada. E, cá para nós, não consigo imaginar que alguém seja de fato encaixado.
A ideia de criar este blog é exatamente a de ter um lugar onde eu não precise estar sempre encaixada em nada, onde eu possa escrever mais livremente ou trazer escritos antigos. Alguém me perguntou qual seria o tema do blog e pensei: será que eu consigo ter um tema? Acho que até consigo, mas decidi que aqui não. Já tenho temas demais para me encaixar pela vida afora. No entanto pensei que, mesmo sem tema, seria sensato pensar em alguns motivos que me trouxeram até aqui. Aí vão eles.

Oito motivos para ter um blog


1)  1) Sempre escrevi poesias, desabafos e alguns contos. Eles sempre se perderam em cadernos velhos ou viraram conversa de boteco. Precisava de um espaço meu para colocar isso tudo.
2)  2) Definir um objeto de pesquisa para uma dissertação foi para mim uma das coisas mais sofridas do mundo. Como disse, sou generalista por natureza, me interesso por vários assuntos.
3)  3) Minha orientadora e meu analista me disseram que a dissertação não era o lugar para escrever tudo, que eu tinha que fechar numa coisa só e aprofundar. Mas e as outras coisas mil que me incomodam, me motivam e sobre as quais também quero falar?
4)  4) Fiz uma pesquisa grande sobre os adolescentes do crime em Minas Gerais e muita coisa que quero dizer não se encaixa no discurso acadêmico.
5)  5)Tem coisa que não se encaixa em nenhum lugar oficial, muito menos no mundo acadêmico, no meio político ou no mercado.
6)  6) Às vezes acho que, por ser profissional da comunicação, deveria ser mais moderna. (Mas tenho sérias dúvidas sobre o que é ser moderna)
7)  7) O mundo não pode ficar tão dominado pelo mundo oficial.
8)  8) Enfim, adoro escrever, bem ou mal é o que gosto fazer. Quem não gostar, que fale mal ou deixe de ler.