quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Canadá novamente: entre a nevasca de Edmonton e as florestas de Vancouver

Libertária como Amsterdam, litorânea como o Rio de Janeiro, cosmopolita como Nova York, moderna como Tóquio e segura como as cidades interioranas. That´s Vancouver!

Cercada por água e gente de todas as partes do mundo, a cidade está localizada na Província de British Columbia, a oeste do Canadá. Com as devidas proporções e diferenças culturais, o estado poderia ser comparado à Califórnia americana. Banhada pelo Pacífico, BC apresenta uma das mais belas paisagens canadenses e um clima mais ameno se comparado a outras regiões do país. Em Vancouver quase nunca neva e, durante os meses mais frios do ano (dezembro e janeiro), a temperatura gira em torno de -5c e 10c. É um frio charmoso, que não chega a ser desesperante.

Conheci a cidade há quase dez anos, quando vim fazer um curso de inglês e morei lá por cinco meses, de fevereiro a julho de 2001. Minhas lembranças de Vancouver eram as melhores possíveis. Não havia vivido de fato o inverno e tinha visto a cidade florescer na primavera e ganhar ares californianos no verão.

E eis que meu marido resolve fazer um doutorado sanduíche no Canadá em 2010. Mas, para minha tristeza, a cidade escolhida para o curso não foi Vancouver e sim Edmonton, em Alberta. Ao contrário de BC, a Província de Alberta é famosa por seu inverno rigoroso e longo. A neve começa em novembro e vai até abril, o que para uma brasileira como eu é um tanto quanto desesperador. Bom, mesmo com tudo isso, resolvi acompanhar meu marido Newton nesta empreitada à América no Norte e cá estou desde o início de novembro.

Um dos acordos que fizemos para que eu viesse pra cá foi o de que faríamos várias viagens e não ficaríamos só em Alberta sentindo frio. Nada mais perfeito para uma primeira aventura do que Vancouver! Newtinho queria conhecer o lugar onde vivi há dez anos e eu queria rever este lugar, ver se a cidade melhorou ou piorou, encontrar amigos antigos... E lá fomos nós. Fiz um relato por dia, porque as experiências foram intensas demais para serem descritas de forma condensada. Aí vai.

1º dia: Da nevasca ao sol do Pacífico
Saímos de Edmonton no dia 9 de dezembro, às 5h30 da manhã, sob uma temperatura de -10c. Pegamos um táxi rumo ao aeroporto. Às 7h30 o avião partiu. Chegamos em Vancouver debaixo de chuva, o que, aliás, é a cara da cidade! O clima temperado chuvoso faz com que a região tenha temperaturas mais amenas que o resto do país e também traz chuvas constantes, mas que não costumam durar muito.

No aeroporto pegamos o Sky Train e paramos em Downtown, onde era nosso hotel. Deixamos as malas no local e partimos para uma visita exploratória. Com um mapa em mãos é possível andar por todo o centro de Vancouver. Minha área preferida é sem dúvida Gastown. Lá as ruas são menores, há vários cafés charmosos, a iluminação é meio baixa e, em uma certa esquina, encontra-se um relógio a vapor. As lojas com artesanato indígena são lindas e também as mais caras... Eles vendem mini totens, máscaras, esculturas e roupas muito bonitas, mas é preciso ter dinheiro para pagar, o que não era bem o nosso caso... Há quem diga que Gastown é mal freqüentada e que concentra a maior parte dos homeless da cidade. De fato, há algumas ruas desta região onde sentimos que estávamos sendo observados por algumas figuras estranhas. Mas nada que chegue a ser perturbador, ainda mais para dois brasileiros.


Gastown
Em Yaletown estão os melhores restaurantes e bares de Vancouver. Na minha época, estes locais eram todos espalhados. Mas foi feita uma revitalização e agora há ruas inteiras de estabelecimentos que oferecem todos os tipos de comida, desde os frutos do mar (especialidade da região) às carnes vindas de Alberta. A Granville Street é a rua das boates e bares mais animados. Á noite ela é super iluminada, com vários artistas de rua nas calçadas e gente moderna por todos os cantos. É quase uma Las Vegas...

Paramos para comer no Pacific Centre e seguimos a caminhada. Após batermos muita perna, resolvemos tomar uma cerveja no Cambie, um bar mais alternativo que fica na Cambie Street. Ele é mais barato que outros pubs da região e está dentro do charme de Gastown. Por isso é muito freqüentado por estudantes, que vêm de todas as partes do mundo. Do lado do bar tem também um albergue. O clima do Cambie, com um Pink Floyd ao fundo, nos animou para o que seria nossa principal atividade do dia seguinte: o show do Roger Waters!


Uma cerveja no Cambie
Mas o show ainda não era hoje e um dia em Vancouver dá pra fazer muita coisa. Descansamos no hotel e saímos para comer em Yaletown. Jantamos no Earls, eu um gyosa de camarão com tempero picante e Newtinho carne com batata. Para os dois, taças de vinho.

2º dia: Parque e rock’n’roll

Vancouver amanheceu com um céu azul estonteante. Depois do café, partimos para o Stanley Park. Ficamos a manhã toda curtindo o lugar, que é maravilhoso. Uma floresta temperada chuvosa, com árvores gigantescas e bichos por todos os lados. Em um certo ponto do parque, há uma coleção de totens enormes, que nos fazem voltar em outra época. Só isso já bastaria para o parque ser perfeito, mas ainda há um outro atrativo. Além de uma floresta linda, com trilhas fantásticas e vegetação exuberante, o Stanley Park está na boca do Pacífico e, sim, tem praias. Como estava frio, não pudemos andar por nenhuma delas, mas há uma pista de caminhada e uma ciclovia na beira do mar, onde é muito gostoso parar e curtir a brisa do Pacífico.


Uma trilha do Stanley Park

Mesas para lanche no Stanley Park

Totens - Stanley Park


Trilha do Stanley Park


Almoçamos num restaurante estilo fast food japonês em Downtown. Aliás, a cidade é cheia deles, já que há milhões de asiáticos vivendo em Vancouver. Para quem ama comida japonesa, como nós, isso é quase um sonho. É muito mais barato comer peixe e camarão do que carne e, além disso, há chefes japoneses por todos os cantos. Enfim, gastamos menos de seis dólares e comemos uma mega refeição com sushis, sashimis, sopa miso shiro e salada.

Á noite fomos ao show The Wall, do Roger Waters (Pink Floyd), uma sugestão do meu amigo Homero e um presente de minha mãe Telma. O show foi num lugar chamado Rogers Arena, onde acontecem os famosos jogos de hockey. Se alguém imaginou aquele show em pé, de pista, confusão, está enganado. Nada disso. A Òpera do Rock foi vista em cadeiras marcadas, acústica excelente, banheiros fartos e limpos o tempo inteiro e muita cerveja!


Ingressos para o show do Roger Waters


Um funcionário nos levou aos nossos assentos e, quando soube que éramos brasileiros, disse que a Bossa Nova é a melhor música do mundo. Logo no começo do espetáculo tomamos um susto. Um avião explodiu no famoso muro, levantando faíscas e arrancando gritos da platéia. Era só o início. A partir daí mergulhamos no universo do Roger Waters, onde os teachers e as mothers são tão negativamente marcantes... O super boneco do teacher era de dar medo... Segundo Waters, o muro hoje é construído pela mídia. Sim, não sei, mas o fato é que The Wall foi a melhor produção do Pink Floyd e o show foi espetacular ou como o próprio Waters disse no final: fuck amazing Vancouver!


Imagens do show do Roger Waters - Stuart Davis, PNG - The Vancouver Sun

"The teacher" - show Roger Waters - Stuart Davis, PNG - The Vancouver Sun

Roger Waters - Stuart Davis, PNG - The Vancouver Sun


Como todo brasileiro e mineiro que se preze, saímos do show querendo tomar uma última cerveja para reviver cada momento. Nada melhor que Downtown! O centro estava fervendo, com jovens do mundo todo circulando, artistas tocando suas baterias e guitarras nas calçadas e bares lotados. Tomamos uma cerveja num bar não tão legal, mas o único que tinha lugar e não tinha cara de muito caro. Terminamos a noite comendo duas fatias de pizza numa das várias lanchonetes de Vancouver que vendem fatias de pizza. Opção barata, boa e a cara da cidade!

3º dia: Anêmonas de Pandora e jantar japonês

O sábado amanheceu chuvoso em Vancouver e nós meio cansados. Os últimos dois dias tinham sido intensos demais e ainda havia mais coisa por vir. Resolvemos voltar ao Stanley Park de manhã e aproveitar para visitar o Aquário, que fica dentro do parque. Confesso que estava meio com preguiça de entrar lá, tinha fila, muitas crianças... Mas o Newtinho estava louco para ver as baleias Belugas e resolvemos encarar. Ainda bem! Foi um passeio lindo. O Aquário é enorme e, além das Belugas, tem peixes de todas as espécies, anêmonas e águas-vivas cintilantes (parecem as sementinhas cintilantes do filme Avatar), répteis e pássaros. Como sempre no Canadá, tudo é muito bem cuidado, com uma estrutura confortável para todo mundo.

Anêmona 

Água viva

Água viva

Baleia Beluga


Almoçamos por lá mesmo. Ficamos em dúvida entre os tradicionais sanduíches e as opções de fast food asiáticas, que aqui são muito boas e baratas. Mas iríamos jantar na casa de uma amiga japonesa à noite, então optamos pelo sanduíche mesmo, com batatas enormes fritas com casca. Depois do lanche, voltamos para o centro e tomamos um café na Biblioteca Pública de Vancouver. O prédio é um charme, parece uma réplica do Coliseu com o acréscimo de um novo desenho na parte de dentro. É enorme e linda. Na parte de baixo, próximo à entrada do prédio, ficam concentrados vários cafés, para todos os gostos.


Biblioteca Pública de Vancouver

Depois do café, fomos a Yaletown procurar uma liquor store para comprar um vinho. Fomos convidados para um jantar à noite, na casa de uma amiga japonesa que conheci na época em que morei em Vancouver, e queria levar um agrado para ela e o marido, um canadense de Vancouver Island, uma pequena ilha próxima a Vancouver, com estilo extremamente inglês.

Keiko, a japonesa, foi nos buscar no hotel em um carro que, apesar dela ter me explicado por email a marca, eu não tinha ideia do que seria. Guardei apenas que era marrom. Ela é de uma cidade menor do Japão, que eu não consigo repetir o nome. Só sei que tem um vulcão ativo na frente da cidade e que, da casa dos pais dela, é possível ver (e sentir!) a fumaça do dito cujo.

O marido dela, o Ben, é um arquiteto canadense que conhece um pouco da obra de Niemayer. Eles têm uma filha linda, a Maya, que herdou os olhos puxados da mãe e as bochechas rosadas do pai. São um casal a cara de Vancouver. Ben tem uma irmã mais velha muito simpática que também participou do jantar e que defende a bandeira das minorias, o que também é a cara de Vancouver!

O jantar começou com vinho e cerveja e alguns tira-gostos. De repente a Keiko serviu a mesa e eu e o Newtinho ficamos extasiados. Era um banquete japonês! Cada um preparava seu sushi na hora, com os ingredientes da mesa, que iam desde os peixes crus (salmão, atum e peixe branco) a carnes, legumes e frutas. Também havia uma salada especial com um tempero japonês incrível. E uns espetinhos de frango picantes que me arrependi muito de não ter comido. Durante a comilança, saquê para acompanhar.


Jantar japonês da Keiko

Depois do jantar, Keiko nos surpreendeu com a ideia de fazer morritos. Ela achou que era uma bebida comum no Brasil... Não negamos e entramos no ritmo. Com nossos copos e sentados a beira da lareira, terminamos a noite com a promessa de uma visita do casal ao Brasil.

4º dia: frutas, chás e barcos

Era nosso último dia em Vancouver e queríamos um programa bem legal. Keiko havia dito que gostava de comprar peixes e frutas em Granville Island, uma ilha quase colada em Vancouver, que concentra mercados, lojas de arte e restaurantes. Na Hornby Street pegamos o Aquabus e em poucos minutos já estávamos na ilha.


Do centro de Vancouver à Granville Island 
O ponto de ônibus de Granville Island 
O mercado é simplesmente encantador. Não muito grande, mas com muitos peixes frescos, frutas, flores, chás e músicos. Compramos cerejas frescas para comer na beira da ilha, vendo os barcos chegando e saindo. Rodamos as lojinhas e almoçamos um sanduíche de camarão, abacate e broto de brócolis (uma delícia!), na lanchonete do mercado. Depois tomamos um café acompanhado de um buttercake de morango e chocolate, sentados nos banquinhos de frente para os barcos.


O mercado público 

Um passeio pelas ruelas da ilha
O mercado público

Uma visão da ilha
De volta a Vancouver, fomos ver o pôr do sol no Canada Place, onde se tem uma vista maravilhosa da baía e se pode curtir um pouco a brisa do Pacífico. À noite encaramos novamente as fatias de pizza, afinal o dinheiro já estava se esvaindo...

Visão do Canada Place, onde as pessoas partem para viagens de navio para o Alasca

5º dia: Victoria de ferry boat

Dia de ir embora para Victoria, capital de British Columbia. De Vancouver pegamos um ferry boat para chegar à ilha. A viagem dura mais de duas horas, mas nem vimos passar... No caminho íamos curtindo a vista do mar e brincando com as gaivotas que nos acompanhavam. Há um café dentro do ferry muito legal, onde tomamos chá e comemos cookies.


Do convés do Ferry boat, indo para Victoria

O convés

Uma das vistas do caminho para Victoria

As gaivotas acompanham toda a viagem

Chegando em Victoria descobrimos que estava tarde para ir visitar o Buchard Gardens, um jardim maravilhoso que havia visitado há dez anos. Ele é um pouco afastado da cidade e, como não conseguimos sair cedo de Vancouver, seria meio corrido ir até lá. Mas o clima da cidade também é muito bom e fomos curtir a tarde em visitas livres pelas ruas e pelo porto onde ficam os barcos e lanchas das famílias mais ricas de BC.


O Parlamento de British Columbia

Pequeno porto de Victoria
Á noite circulamos pelo centro e descobrimos que, diferente de Vancouver que tem um ar mais moderno e cosmopolita, Victoria tem um clima de interior da Inglaterra. As pessoas são bem vestidas, elegantes e muito simpáticas com os turistas. Comemos uma refeição bem inglesa: sanduiche, peixe e batatas. E mais tarde fomos parar em um pub fantástico, com música ao vivo e com um repertório que ia de Beatles a Bob Dylan. Provamos a cerveja produzida lá, que era muito boa, e voltamos para o hotel tristes, porque no dia seguinte teríamos que voltar para o inverno inóspito de Edmonton. Mas estes dias foram valiosos demais para nós, porque deu para sentir como o Canadá é um país enorme e cheio de diversidades.

Na chegada em Edmonton já sentimos a diferença entre British Columbia e Alberta... Enquanto em Vancouver e em Victoria pegamos dias de sol com temperaturas positivas, em Edmonton os termômetros marcavam -10c e uma neve fina caía sobre nossa casinha. Agora é retomar a rotina, Newtinho na universidade e eu em mais um curso de inglês, refazer as finanças e planejar a próxima viagem. Provavelmente será em Quebec City e Montreal. E afinal de contas, existe algo na vida melhor do que viajar?

6 comentários:

  1. puxa,li com sogreguidão um texto tão interessante. pelo seu relato Vancouver é apaixonante, mas acho que tudo depende do sentido que se dá aos locais, pessoas e coisas.

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  2. Cacá, querida, fiquei muito feliz e mesmo emocionada a descrição da viagem de vocês. Espero que vocês curtam muitas aventuras por aí!
    Saudades, Carol

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  3. Adorei "conhecer" um pouquinho de Vancouver e Victoria! Um belo passeio que merece ser refeito depois de 10 anos.
    Vou continuar viajando por aqui com vc e o Newtinho...
    Bjo grande para vcs,
    Cris Capanema

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  4. Oi caca!
    Ficou muito legal esse blog.É uma coisa legal para passar o tempo.
    Ficaria legal.Gostei muito do blog por que vc descreve a cidade com uma visão de um morador não de um turista.
    Lembrando meu blog é http://tirinhaslocas.wordpress.com
    Abraços Lucas(ou Meni)

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  5. Sua escrita é uma delícia! Me deliciei relembrando cada cantinho de tempo que a gente passou junto. Estou ansioso pela próxima aventura. Um beijo, N.

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  6. Oi Cacá e Newtinho,
    Fico feliz que vocês tenham aproveitado a viagem! Pelo texto foi mesmo uma delícia!
    Continue escrevendo pra que a gente possa participar da sua vida canadense.
    beijos para os dois,
    Isabela

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