quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Terça-feira analítica

As terças-feiras costumam ser relativamente livres para mim. É o dia da minha sessão de análise e, muitas vezes, vira também o dia de uma cerveja com os amigos, de leitura de um poema antigo, de bate-papo filosófico e regressivo. Tem sido assim há alguns meses.

Ontem foi terça-feira e o dia acabou sendo uma grande mistura de todas as possibilidades habituais previstas para a data. Fui para a análise, fritei a cabeça, não consegui mais trabalhar e no fim do dia tomei uma cerveja doméstica, na companhia do maridão. A conversa virou uma confusão só, do jeito que eu gosto, e fluiu tanto que nos levou a comprar mais algumas latinhas.

Antes que algum moralista de plantão repreenda esta decretação de uma terça livre (em plena terça!), vou logo dizendo que esta é uma válvula de escape que todo cidadão deveria ter direito. Ter tempo para pensar na vida, conversar, ler algo que está na estante, enfim, reavaliar alguns pontos para seguir adiante. Pena que o capitalismo e o catolicismo não entendem que isso seja importante.

Bom, voltando à terça, ontem o ponto em análise era uma vontade enorme de poder usar toda minha consciência sobre algumas questões para de fato mudar meu comportamento diante destas celeumas. Sim, porque entre entender como as coisas funcionam e as modificar existe um longo caminho. E neste ponto a psicanálise é bem ingrata, já que ela ajuda a clarear, mas é inócua na transformação. Passamos a conviver com nossos eus de todos os tempos - passado, presente e futuro- e o gerenciamento desta turma toda é complicado... E por aí foi a conversa.

Mas como também não é só de conversa que se vive uma terça-feira, resolvemos, eu e o Newton, escrever alguns pensamentos, sem compromisso nenhum. A brincadeira de colocar no papel ideias totalmente abstratas a quatro mãos foi bastante divertida. Tudo iria se perder se não contássemos com este espaço aqui, mas já teria valido pelo momento.
Então aí vai um trecho da última terça-feira analítica. O texto é meu e do Newton.

Repito, me repetem
tudo se repete
e vivo repetindo
De repente tudo é o mesmo de ontem

O mesmo é de ontem
a consciência é de hoje
mas ela não deixa, deixa...
Deixa que eu repita, me repitam
tudo se repete
e vivo repetindo

De repente tudo é o mesmo de ontem
Reflito, tudo muda
e nada muda
O meu sangue mata baratas.

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