segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Clientelismo

Incrível que o clientelismo ainda exista de forma tão explícita no Brasil e aqui em nossas terras das Minas Gerais. Mas não aquele clientelismo velado, porque este talvez seja parte de nossa democracia frankstein, que mistura modelos de realidades distantes e pula etapas de desenvolvimento da sociedade civil. Estou falando de um clientelismo explícito, justificado por si mesmo, às claras, assumido como forma de alternância de poder. Estou falando daquele clientelismo onde a população de uma pequena cidade acha extremamente natural que o candidato ofereça um “salário família” para uma real família em troca de um pacote de votos “fechado”. Fechado em seus dez irmãos, 30 filhos e 25 netos.
O investimento é certo, a vinda do dinheiro também. E depois tudo está mais certo ainda. Desde, claro, que se faça a escolha certa. Assim é a cidade de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. Em um trabalho de pesquisa de campo nesta cidade, realizado no dia 11 de setembro de 2008 (véspera de eleição), nós entrevistadores nos vimos frustrados com o sentimento de medo presente no município. Voltada para a temática da criança e do adolescente, a pesquisa tornou-se inócua frente ao sentimento de pânico da população. Muitos haviam fechado “pacotes” com os candidatos locais, muitos temiam o novo governo, a prefeitura estava de portas fechadas... O único secretário encontrado nos ameaçou de forma assustadoramente direta.
Naqueles dias, a música do Jequitinhonha se calou. Sumiram os poetas, sumiram os sonhadores. Ficaram apenas as famílias, sem oportunidade de trabalho, sobrevivendo na zona rural, com transferências de renda mínimas, vendendo seus votos por preços ínfimos. A voz ouvida era a da rádio local, único meio de comunicação da cidade, de propriedade do senhor Murilo Badaró, o que dispensa comentários.

obs: Este texto foi escrito em 2008, mas como temos eleições neste ano, achei interessante trazê-lo de volta, para nos lembrar que o Brasil é bem maior do que aquilo que vemos nas capitais...

2 comentários:

  1. E agora em 2010, quais serão as novidades dos novos pacotes de votos em Minas Novas?

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  2. É impressionante como, apesar do discurso oficial, ainda existem realidades como essa. E o pior, como muitos políticos que se pintaram de "progressistas" e "gestores eficientes" são os mesmos que fazem questão de manter o clientelismo. Ótimo texto.

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